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Tombo de Troporiz

O Tombo da Igreja de Troporiz, datado de 1548, é um documento do património histórico e religioso da freguesia de Troporiz, no concelho de Monção. Redigido em pleno século XVI, durante o período do Renascimento português, este tombo constitui um registo minucioso dos bens, direitos, propriedades e rendimentos pertencentes à igreja paroquial de Santa María dos Anjos de Troporiz.

Tombo de Troporiz

O termo "tombo", no contexto da administração eclesiástica e senhorial portuguesa, designa um livro de inventário ou matrícula, destinado a documentar a posse de terras, dízimos, capelas, casas, alfaias e outros bens imóveis ou móveis pertencentes a uma instituição religiosa ou à Coroa. Estes documentos eram essenciais para garantir a defesa dos direitos patrimoniais e jurídicos da igreja frente a disputas, usurpações ou esquecimentos ao longo do tempo.


No caso de Troporiz, o tombo de 1548 oferece-nos um retrato vivo da estrutura económica, social e espiritual da comunidade local, revelando a forma como o território se organizava, quais eram os principais lugares da freguesia, quem detinha responsabilidades e quais eram os vínculos entre a igreja e os seus fregueses.


Este documento é, hoje, não apenas uma fonte de grande valor para o estudo da história local, mas também um testemunho raro da continuidade da presença e identidade da comunidade de Troporiz, desde tempos medievais até à atualidade.




Pagina 1 Em nome de Deus, amém.


Saibam quantos este instrumento de tombo virem como no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e quarenta e oito anos, aos quatro dias do mês de março, em presença de mim, tabelião público, e das testemunhas abaixo assinadas, apareceu o reverendo padre João Fernandes, vigário da igreja de Santa Maria de Troporiz, e disse que mandava fazer o tombo de todos os bens que pertencem à dita igreja, com seus limites e confrontações, para memória perpétua.


E que este tombo se faça por mandado e autoridade do dito vigário, e seja escrito por minha mão, tabelião, com toda a verdade e fidelidade, segundo os testemunhos dos homens bons da freguesia e os marcos e sinais que se acham nas ditas herdades e propriedades, as quais serão aqui declaradas e descritas por extenso neste livro, para que em nenhum tempo se possa dizer ignorância ou se levantar contenda sobre os ditos bens.


E que ele, vigário, faz este tombo por bem e utilidade da dita igreja, por estar algumas das ditas propriedades em confusão ou usadas por pessoas leigas, sem conhecimento de foro ou obrigação à igreja, e que assim não se perca o que lhe pertence, mas que fique escrito com clareza para os presentes e os que vierem depois.





Pagina 2


Primeiramente, uma vinha que está situada no lugar chamado Outeiro, a qual parte de nascente com herdade de Diogo Álvares, e de poente com caminho público, e de norte com campo da dita igreja, e de sul com vinha de João Rodrigues, foreira à dita igreja, que rende em cada ano três alqueires de trigo e dois de centeio.


Item, outra vinha chamada a Vinha da Ribeira, que parte de nascente com o rio, de poente com o campo de André Fernandes, de sul com caminho público, e de norte com a vinha de Pero Gonçalves. Foreira, rende um alqueire de trigo ao ano.


Item, um campo lavradio no sítio chamado Lama da Eira, que parte de nascente com campo de Maria Fernandes, de poente com vinha do mosteiro de São Fins, de norte com caminho velho que vai para Lapela, e de sul com pomares de António Gonçalves. Este campo rende cada ano dois alqueires de milho.


Item, uma casa de pedra coberta de telha, situada junto à igreja, que serve de morada para o vigário e tem anexa uma eira e pequeno quintal murado. Confronta de nascente com o adro da igreja, de poente com a casa de Francisco Dias, de norte com a rua pública, e de sul com o pomar da dita igreja.


Item, outra peça de campo no lugar de Valongo, a qual parte de nascente com herdade de Domingos Álvares, de poente com o souto de Gonçalo Pires, de norte com o caminho que vai para a ermida de São Martinho, e de sul com terras da igreja. Rende cada ano um alqueire de milho.


Item, uma leira de horta junto ao rio, foreira à igreja, que está sem lavoura por ser de pouca serventia. Tem de nascente o rio, de poente a leira de Ana Dias, de norte a horta de Simão Fernandes, e de sul a água que corre para o moinho.





Pagina 3


Item, uma terra de mato e carvalhos no sítio da Costa, que confronta de nascente com monte comum, de poente com caminho de carros, de norte com herdade de Afonso Dias, e de sul com a vinha de António Pires. É aproveitada para lenha da casa do vigário e não rende foro.


Item, um pedaço de campo chamado As Cortes, que parte de nascente com campo de Pero Fernandes, de poente com regato da fonte, de norte com eira da Ana Maria, e de sul com caminho que vai a Valongo. Foreira, rende um alqueire de centeio.


Item, uma vinha pequena no sítio do Souto, a qual parte de nascente com souto de Simão Álvares, de poente com caminho que vai à igreja, de norte com terra de Maria Fernandes, e de sul com campo do mosteiro. Foreira, rende meia medida de vinho e um arrátel de cera.


Item, um casal antigo chamado Casal da Lameira, com casa, curral e campo, situado entre o caminho real e o regato. Confronta com herdade de Manuel Pires, com terras da igreja e com o monte. Foreiro, rende seis alqueires de milho e quatro de trigo ao ano.





Pagina 4 Item, uma terra lavradia no lugar da Estrada Nova, junto ao caminho real, que parte de nascente com vinha de Francisco Afonso, de poente com a estrada, de norte com campo de Isabel Gonçalves, e de sul com o monte da igreja. Rende um alqueire de trigo.


Item, uma horta com algumas árvores de fruto, sita no Vale da Ribeira, que parte de nascente com o rio, de poente com a leira de João Dias, de norte com a horta de Domingos Fernandes, e de sul com terra brava. Foreira, rende dois alqueires de milho e seis maravedis em moeda.


Item, uma vinha no lugar de São Martinho, confrontando de nascente com o caminho velho, de poente com a herdade de Belchior Dias, de norte com o regato que vem da fonte, e de sul com campo da igreja. Foreira, rende meia canada de vinho e um arrátel de cera.


Item, uma terra inculta e pedregosa no lugar de Lapa, que serve de pasto comum para os bois do vigário. Não rende foro, mas deve ser guardada em memória de seu uso antigo.







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