

Os ditos populares são o espelho da sabedoria coletiva de um povo. Passados de geração em geração, guardam em poucas palavras séculos de experiência, humor, conselhos práticos e uma visão muito própria da vida. A seguir, alguns típicos da nossa região.
expressões
- "A cabra, co vício, dá com o corno no cu": Usada para descrever alguém que, por insistir num comportamento teimoso ou destrutivo, acaba por se prejudicar a si mesmo de forma absurda ou dolorosa.
- "Quem manda escaravelhos, merda lhe acarrejam": Sentido de que se mandas alguém incapaz ou pouco prestável, não podes esperar que ele te traga bons resultados.
- "Andar com ovos debaixo dos braços": Estar cheio de cuidados excessivos, andar muito cauteloso ou vaidoso.
- "Com Santo António é a lavra do restolho": Indica que, por volta do dia de Santo António, é altura de lavrar os campos de restolho.
- "Comer de cebolada": Enganar completamente a alguém.
- "Dar o cu e três tostões": Expressão grosseira para dizer que alguém faz tudo, mesmo se humilhando, por pouco dinheiro ou por interesse.
- "Andar a laurear a pevide": Estar a passear ou a fazer nada de produtivo; vadiar.
- "Burro velho não toma andadura, e se a toma, pouco dura": As pessoas com hábitos antigos dificilmente mudam, e mesmo que tentem, não é por muito tempo.
- "Gato escaldado de água fria tem medo": Quem já sofreu uma vez, torna-se mais cauteloso até com o que é inofensivo.
- "Como um boi a olhar para o palácio": Estar a olhar sem perceber nada; expressão de quem está completamente à nora.
- "Quem cava em maio, cava por cada raia um gaio": Dificuldade de cavar a terra em maio, sugerindo que cada sulco exige muito esforço.
- "Raios o partam / Rais te partam / Rais quilhe / Raistequilhe: Maldição popular antiga, significando “que algo mau te aconteça”.
- "No dia de S. Nunca": Algo que nunca vai acontecer; um dia imaginário que nunca chega.
-"Ponha-se no caraças": Mande-se embora! Expressão agressiva para afastar alguém.
-"Não saber a ponta de um corno": Não saber absolutamente nada sobre um assunto.
-"Meter o bedelho": Intrometer-se em assuntos alheios sem ser chamado.
- "Gente do Minho veste pano de linho": Provérbio que realça o orgulho minhoto e a tradição em se vestir bem, mesmo com poucos recursos.
- "És de Braga?": Expressão usada quando alguém deixa a porta aberta (por alusão à Porta Nova de Braga, que não tem portas).
- "Emprenhar pelos ouvidos": Acreditar em tudo o que se ouve, sem pensar ou confirmar; deixar-se influenciar facilmente.
- "Estar à espera do pio pardo": Esperar por algo que nunca vai acontecer; equivalente a “esperar sentado”.
- "Andar de olho/da perna": "Estar em alerta ou reparar alguém com segundas intenções".
- "Quem anda com o lobo, uiva como ele": Transmite a ideia de que as companhias influenciam profundamente o comportamento de uma pessoa.
- "Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades": Quando há conflito entre pessoas próximas, vêm à tona segredos e verdades escondidas.
- "Eu digo-te a quantos de maio pariu a poupa": Expressão usada para ameaçar ou para dizer que se vai contar toda a verdade.
- "Não caber na cova de um dente": Diz-se quando se acha que a comida é pouca. Ser muito pequeno ou insuficiente; também usado para exagerar o pouco valor de algo.
- "Manobras de cu p’ro ar": Ações inúteis, ridículas ou de aparência indecente.
-"Sabes mais do que a Lúcia": Dito irónico para alguém que se arma em sabichão. Alusão à irmã “Lúcia”, de Fátima.
- "María vão co’as outras": Pessoa sem opinião própria, que apenas segue a maioria.
- "Compra um cu e fala p’ra ele": Expressão extremamente vulgar e agressiva para mandar calar alguém ou mostrar desdém.
- "Tás com a veia à mostra!": De quem está visivelmente irritado ou zangado.
- "Nem vou lá nem faço minga": Não valer a pena.
-" Não valer quatro tostões furados": Não ter valor nenhum, ser inútil.
-" Vai abaixo de Braga": Expressão típica usada cómo sinónimo de "não me chateies"
- "O doutor de mula ruça, quando passa pela gente todos lhe tiram a carapuça": Provérbio irónico para descrever alguém com aparência importante mas que não o é de verdade.
- "Ir com muita sede ao pote": Avançar com demasiada ambição ou pressa. Getalmente acabar por se dar mal.
- "Vender água sem caneco": Prometer algo sem meios para o cumprir; fazer promessas vazias.
- "Ver Braga por um canudo": Perder a oportunidade de fazer algo; ficar a ver os outros a aproveitarem enquanto se fica de fora.
- "Ir guardar os pitos ao abade": Expressão que significa ir para lugar nenhum ou fazer algo inútil; às vezes usada para dizer que alguém morreu.
- "Sai o linho à linhaça e o diabo à sua casta": Tudo se parece com a sua origem; tanto nas plantas como nas pessoas, a natureza revela-se.
- "Armado em carapau de corrida": Pessoa que se arma em importante ou esperta, mas que não é nada disso.
- "Mais do que as mães": Em excesso, muitos, exageradamente.
- "Arranjar unto para a matéria": Conseguir dinheiro ou um recurso extra para resolver algo.
- "Comer e coçar, é tudo começar": Qualquer coisa, mesmo que pareça difícil ou embaraçosa ao início, depois de começada, torna-se natural ou inevitável.
- "Cabra manca não tem sesta, e se a tem, pouco lhe presta": Quem tem limitações ou falhas não pode dar-se ao luxo de descansar, e se o faz, não lhe serve de muito.
- "Andas que nem burro de presépio!": Refere-se a alguém que está parado ou sem fazer nada.
- "Olha que não é pra quem quer, é pra quem calha!": Expressão que ressalta que certas coisas acontecem ao acaso, não por desejo.
Palavras
- Acachanfundar: Afundar-se, mergulhar com força.
- Acagaçados: Com muito medo.
- Acanhar: Assutar, intimidar.
- Agasalho: Refeição tradicional composta por grão, vinho e, eventualmente bacalhau frito, que se ofrecia aos cofrades das irmandades.
- Á gola: Sem pagar. Também sem proteção, ao relento, exposto ao tempo.
- Aguça: Pedra ou dispositivo usado para afiar instrumentos cortantes, como facas ou tesouras.
- Aguçadora: Palavra sinónima de afia-lápis.
- Aininas!: Interjeção de satisfação.
- Albardeiro: Mentiroso ou trafulha.
- Alfotrecos: Trecos, bugigangas, coisas velhas sem muito valor ou função.
- Andor: Forma de mandar alguém embora.
- Ao leu: Nu, á mostra.
- Arreguilada: Atenta a tudo, vivaça.
- Artolas: Pessoa simplória, ingênua, que facilmente é enganada.
- Assapar: Bater com força em algo ou alguém. Andar depressa.
- Astreverse: Arcaismo de atrever-se.
- Atranca caminhos: Pessoa que atrapalha, com azar na vida e que pouco faz para contrariar a sua sorte.
- Azeiteiro: Indivíduo de gosto duvidoso, aparência exagerada ou comportamento de mau gosto.
- Bacazona/Vacazona: Mulher ou rapariga grande e desajeitada; também pode ser usada de forma depreciativa para criticar o aspeto físico.
- Bacia: Labadeira, recipiente plástico redondo, tradicionalmente utilizado para lavar roupa, legumes ou outros alimentos.
- Badolas: Pessoa preguiçosa, molengona ou que não leva nada a sério. Tolo ou palerma.
- Baganheira: Designação popular para a coroa dos relógios de pulso, a pequena roda lateral utilizada para ajustar a hora.
- Bandulho: Barriga volumosa, proeminente, associada ao excesso de peso ou a grande ingestão alimentar.
- Banguela: Bengala.
- Bançé: Confusão ruidosa, altercação ou discussão acalorada.
- Basculho: Pessoa considerada porca, pouco digna ou de má reputação.
- Bicha: Pessoa má ou ruin. Também mangueira de rega ou ligação hidráulica.
- Bisga: Expressão sinónima de cuspir.
- Borra-botas: Zé-ninguém. Pessoa de pouca importância, sem relevância social ou competência.
- Bouça: Terreno inculto, cheio de mato; comum nas zonas rurais do norte de Portugal.
- Breca: Utilizada para descrever tanto um acesso de fúria como também uma cãibra.
- Broeiro: Indivíduo rude, pouco instruído, com modos brutos e linguagem vulgar.
- Burro asado --> Burruçado: Rebuçado. Por facecia.
- Cabaneira: Pessoa que se intromete na vida dos outros.
- Cabeça de alho chocho: Pessoa esquecida ou distraída; que está sempre “nas nuvens”.
- Cachapina: Aguardente. Também pode significar alguém desastrado.
- Cacifre: Armadilha feita de varas de salgueiro para caçar pássaros.
- Caga-tacos: De estatura pequena.
- Camurcina: Casaco feito de camurça, frequentemente utilizado como peça de meia-estação.
- Canhota: Pedaço de lenha toscamente cortado.
- Canastro: Termo figurado para corpo, geralmente utilizado com conotação negativa.
- Canistreo: Armadilha para pássaros.
- Cantar de garniço: Exibir-se.
- Canté: Expressão de desejo,"quem me dera" ou "isso é que era bom".
- Carcela: Parte que cobre a zona da braguilha, onde se localiza o fecho ou botões frontais das calças.
- Carrapicho: Nó no cabelo.
- Catrapásio: Desproporcionado. Livro grande e pesado.
- Cenoura cabeluda: Membro viril masculino.
- Chaço: Carro velho e em mau estado.
- Charabaneco: Pessoa de pouco importãncia.
- Chieira: Vaidade ou presunção
- Chispes: Designação popular para os pés de animais, particularmente porco ou de vaca.
- Corisca: Ponta de cigarro depois de fumado, beata.
- Cruzeta: Estrutura de madeira ou plástico utilizada para pendurar peças de roupa, mais comummente designada por cabide.
- Cu de brolho: Expressão ofensiva; designa alguém insignificante, inútil ou mal jeitoso.
- Culatrão: Mulher de má vida.
- Cum carago: Interjeição usada para expressar espanto, raiva ou ênfase.
- Dasse!: Interjeção de rejeição. Fodasse.
- De ginjeira: Algo feito com gosto, fácil ou perfeição
- Desandador: Ferramenta equivalente à chave de fendas, usada para desapertar parafusos de fenda simples.
- Empiriquitado: Muito enfeitado, vestido de forma exagerada e chamativa. Janota.
- Enjerido: Sentir muito frio, enregelado.
- Esgadunhar: Arranhar a alguém com as unhas.
- Estadulho: Fumeiro. Pau grosso.
- Estar de furrica: Diarreia ou indisposição.
- Estar quilhado: Estar lixado. Estar em maus lençóis, estar tramado, sem saída.
- Estonar: Descascar ou remover a casca de algo.
- Estupor: Pessoa considerada desagradável ou vil; no uso popular, pode ser também uma mulher ousada de má reputação.
- Foder o juízo: Chatear muito.
- Fraldiqueiro: Pessoa mal arranjada.
- Funga-gatos: Brinquedo. Tambén pessoa com hábitos duvidosos, muitas vezes usada para designar indivíduos malcheirosos ou excêntricos.
- Greiro: Grão de cereais ou leguminosas, sobretudo em contexto agrícola.
- Horas a fio: Durante muito tempo seguido, sem parar.
- Indreita: Forma regional de dizer “endireita”; mandar alguém corrigir o comportamento ou a posição.
- Lambe-cricas: Expressão vulgar e insultuosa para uma pessoa bajuladora ou servil
- Lambisgoia: Mulher bisbilhoteira, intrometida, mexeriqueira.
- Lavagice: Com preguiça ou falta de vontade.
- Librandisca: Mulher vaidosa, que se preocupa excessivamente com a aparência ou se exibe socialmente.
- Lingrinhas: Pessoa fisicamente fraca, de constituição débil ou frágil.
- Maneia-te!: Forma arcaica para mexe-te.
- Mata-bicho: Pequeno-almoço ou copo de aguardente tomado pela manhã.
- Melindrado: Ofendido.
- Mete-nojo: Alguem chato. Algo ou alguém que causa repulsa, nojo ou antipatia.
- Morcão: Pessoa lenta, desajeitada ou parva.
- Mostrenco: Indivíduo sem graça, desorientado ou sem rumo; também pode referir-se a algo abandonado.
- Palha-milho: Pessoa sem importância ou sem substância. Milho miúdo.
- Pampiero / Pampirro / Pampulho: Malmequer do campo. Pessoa rústica, geralmente do campo, às vezes usada de forma depreciativa para simplória ou pouco polida.
- Patife: Pessoa desonesta ou sem princípios, com tendência para a má conduta.
- Peteiro: Recipiente para guardar moedas (Mealheiro).
- Pirolito: Antiga água gaseificada. Tipo de rebuçado antigo; também usado para descrever algo pequeno e colorido
- Pisca-póles: Aparelho de verificação elétrica utilizado para detetar a presença de corrente em cabos ou tomadas (“busca-pólos”).
- Pispirro: Jato fino de água que sai de bebedouros ou fontes, ou ainda pequenas fugas em canalizações.
- Roupa velha: Prato típico feito com sobras (geralmente bacalhau, couve e batata).
- Relote: Variante oral de “roulotte”, veículo adaptado para habitação ou comércio.
- Retunda: Variante fonética de “rotunda”, espaço circular numa estrada que regula o trânsito.
- Sarrafada: Confusão que não raras vezes termina em violência. Pancada forte, normalmente com algo duro.
- Sarranho: Nódoa ou mancha.
- Sendeiro: Indivíduo astuto ou enganador, com inclinação para esquemas e trapaças.
- Serigaita/Sirigaita: Rapaz ou rapariga leviana; pessoa sem seriedade.
- Sofagem: Designação do sistema de aquecimento em automóveis mas também utilizado para casas, derivado do francês chauffage.
- Songamonga: Pessoa falsa, sonsa, que se faz de boazinha mas tem más intenções.
- Sonsa: Pessoa dissimulada ou hipócrita.
- Sostra: Pessoa preguiçosa, pouco inclinada ao trabalho ou esforço físico.
- Taramelo: Pessoa tola, desajeitada, com dificultade em falar ou simplória; também pode ser um objeto malfeito.
- Tacha arreganhada: Pessoa com os dentes muito salientes; também pode ser usada para descrever um sorriso forçado ou feio. Pessoa que ri muito.
- Telhudo: Indivíduo teimoso ou obstinado, difícil de convencer.
- Terra de cemitério: Lugar ou situação sem vida, sem movimento, desolador. Pessoa muito calada.
- Tibar: Descrever o processo de mistura entre água quente e fria. Tornar morna a água.
- Tona: Casca da laranja, geralmente retirada em espiral e ocasionalmente usada para perfumar ou decorar. Também usada para nomear a cortiça dos piñeiros.
- Trambolho: Pessoa ou objeto desajeitado, desproporcionado ou considerado feio.
- Trampolineiro: Vigarista. Pessoa que se aproveita de situações para benefício próprio de forma desonesta.
- Traulitada: Pancada violenta, porrada; também usada figuradamente. Acto sexual.
- Trengo: Pessoa com dificuldade de raciocínio, distraída ou que revela lentidão mental.
- Triçolho: Terçolho no olho (inchaço na pálpebra); às vezes usado para descrever olhos feios ou inchados.
- Trinca-espinhas: Pessoa muito magra; ou alguém que come tudo, até as espinhas do peixe.
- Verdugo: Carrasco; usado figuradamente para alguém que é cruel ou insensível.
- Zombeteiro: Pessoa que está sempre a gozar ou a fazer troça dos outros.