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Rio Gadanha (1/2)

[Texto de Felix Rodrigues Barreiros (Ortografia e gramática preservadas) - 2009]
As linhas abaixo trazem reminiscências de minha infância e resgata a memoria de um dos mais aprazíveis lugares que tenho guardado na minha memoria, que seja um legado para a posteridade, o velho mais sempre atual: "Rio Gadanha"...

Rio Gadanha (1/2)

Pelo menos o que eu conheço, desde a minha infância, como se sabe ou se diz, que o Rio Gadanha nasce no lugar do Extremo, ou na Freguesia de Anhões lugar de Lameiras há dúvidas sobre isso pois são duas localidades próximas.

Nas fraldas da serra do Senhor do Bonfim, chega a Luzio depois de varias linhas de água descendo serra abaixo, reforçado com alguns regos de água que a ele se juntam começando a fazer seu caudal de água.

Chega a Luzio, corre serpenteando Rio abaixo, entre vales campos e arvoredos, chegando a São João da Portela, terra do nosso amigo autarca Dr. Emilio onde eu tive oportunidade de ouvi-lo em um comício de campanha, para a reeleição.

O que muito nos orgulha pelo trabalho que está fazendo pelo nosso Concelho, ele ressaltou sua infância passada junto ao Rio, de que ele recordou com muita saudade prometendo recuperar suas margens e seus Moinhos hoje chamados de "Azenhas“.

Infelizmente até hoje nada foi feito, pois tudo está em ruínas, inclusive suas represas, a não ser na Freguesia de Sá, as razões não sei, mas como sempre se fala : falta de verbas.

Antigamente todas as margens estavam limpinhas e dava gosto ver correr o Rio com suas águas muito limpas necessidade de lenha para o fogo, a as vergas e arijões para o feijão e ervilhas, mas não me incluo nesse rol, pois todo ano, nas minhas férias sempre limpo tudo o que me pertence, pois tenho casa em Troporiz pertinho do nosso Rio Gadanha.

Mas deixando esses comentários de lado, alias, sou filho de Troporiz no tempo em que a gente bebia água do nosso Rio, mas Luzio abaixo passa em São João da Portela, chegam as Taias, passando na Ponte da Naia, Pias, Moreira e Pinheiros, com suas Azenhas, suas Pontes Romanas passam em Vila Nova suas Pontes Romanas e hoje é uma linda praia fluvial.

Chega a Requiào Mazedo, divisa de Troporiz na Ponte de Sendim, serpenteando nossos campos e arvoredos. Do lado direito: a Bessada, Bebedouros e o Areal. Do lado esquerdo: as nossas Veigas, a maior gleba de terra cultivada em Troporiz, pois é em Troporiz que tem seu maior curso de água até a foz do Rio Minho.

Pela sua trajetória chegam os primeiros Moinhos chamados de Azenhas, que pertenciam a um Senhor de Requião (chamado de Moinhos do Preguiça - do lado direito do Rio Gadanha) com sua represa, onde também funcionava um engenho de serrar madeira, que nós, crianças, gostávamos de ver funcionar, mas o tal senhor não era lá muito amigo das crianças, aliás como todos os idosos da época, não davam muito carinho às crianças.

Continua Rio abaixo serpenteando pelos campos e arvoredo chega a nossa ponte nova, chamada de Porto do Rio e margeando um belo regadio [feito pelo antigo presidente e o meu amigo Zé Careiro (meu amigo de infância)] chega à represa e os Moinhos do lado esquerdo da Tia Libanea. Boa senhora, com bons filhos como: o Zé da Bina. Manoel, João da Bina, Rosa Maria, Secundino, Joaquim e Adolfo. O Zé era ótimo feitor de paus de sócos, e o Manuel ótimo carpinteiro e um bom feitor de Tinalhas dos Moinhos. Também a Filisbela com seus filhos, o Zé da Filisbela, a Maria e o João.

O Zé, depois da tropa montou uma oficina de carpinteiro junto a uma pequena loja. Me lembro que as coisas não iam muito bem, e segundo se falou na época, ele tacou fogo na dita casa, mas o sino da igreja as tantas da noite tocou e a freguesia ocorreu com tudo que era possível: canecos, regadores e o incêndio foi apagado, mas pouco tempo depois novamente pegou fogo e desta vez foi tudo pelos ares. Creio que depois foi para Lisboa e nunca mais o vi, pois em 1951 imigrei para o Brasil e por aqui estou há 58 anos sem esquecer a terra que me viu nascer.

Abaixo um pouco da margem esquerda, os Moinhos da Rosa da Costa, depois a filha conhecida como Maria do Moinho. Nós, crianças, muito gostávamos de tomar banho na dita presa da Maria do Moinho. Me lembro da Tia Rosa sentadinha nas escadas da casa e já ceguinha. A gente passava com muito silêncio mas ela nos sentia e nos ralhava para não estragar a presa. A Filha chamada de Maria do Moinho, boa senhora com os filhos: Bento, meu particular amigo no Brasil, Maria, Irene e o chamado Felix, apelidado de Feliz que eu não conheci, gente muito boa.

Mais tarde veio um Senhor de Guimarães chamado Bernardino e sua esposa Rita, mas esse já veio com lindo cavalo e uma bela carroça e continuou tocando o Moinho.

Mais abaixo nossa ponte romana, chamada de Ponte da Igreja, ha sim seria a mais bonita praia fluvial do Rio Gadanha, o que foi prometido pelo nosso presidente mas até hoje não concretizada.

Mais abaixo, do lado esquerdo, os Moinhos da Tia Umbulina da Zenha, boa senhora irmã da saudosa Tia Manota. Mais tarde, o filho e o meu amigo Casimiro veio de Lisboa e tomou os trabalhos dos Moinhos, com mais vontade de produzir. Salvo erro, até hoje ainda é o único que funciona moendo farinha. Do outro lado direito um pequeno Moinho chamado do Carvalheira, mas esse com pouco uso. Rio abaixo, ahi sim da mesma margem vem os Moinhos do Carvalheira, conhecido em Valença como João da Ponte Seca, para onde levava a farinha ali moída. Tinha um belo cavalo e boa carroça, com um Sr. Bernardino homem muito alegre que para Valença levasse tudo o que produzia. Uma coisa curiosa que bem me lembro: esse dito cavalo no tempo da guerra, foi recrutado para a cavalaria portuguesa, aonde mais tarde voltou são e salvo a continuar sua tarefa.

Essa presa do Carvalheira era uma das nossas preferidas para tomarmos banho. Ainda hoje no verão é o ponto preferido da nossa juventude, aliás foi ali que foi montado o primeiro Moinho elétrico, o que era uma novidade para a época.

Rio abaixo pelo mais famoso campo de Troporiz (chamado Campo de Rebouças) é a maior parte dos Moinhos. É no lugar da Laje, de onde eu sou, e de lá eram muitos Moinhos e Moleiros com seus jumentos para transportar a farinha. Era a Tia Ana do Raro, depois a filha Tina aonde ela abastecia a freguesia de Lara, A Tia Áurea, esposa do Zé da Bina, e Tina Pensa, filha da Tia Maria do Cabo (essa abastecia parte da Vila e Mazedo de farinha). A Tia Florinda Poupa, mãe da Maria da Poupa, avó e mãe do meu grande amigo Alberto, em São Paulo, essa abastecia parte de Cortes e a Quinta da Portelinha.

Rio abaixo a Presa de Rebouças com o penedo das Lajinhas onde as moças lavavam e coravam a roupa. Lado direito os Moinhos do Marques, trabalhados pela Tia Rosa da Chica e demais familiares como a Tia Maria do Clemente que levavam parte da farinha para a vila. Era o meu particular amigo o Tone da Chica, conhecido como Tone Lapelo e ele não gosta muito que assim o chamassem. Do lado esquerdo os Moinhos do Peniche, aonde trabalhados também pela Rosa da Chica, irmã de Tia Isaura do Zé do Cabo.

Abaixo têm a nossa ponte do Rebouças que há dúvidas se realmente romana ou não, mas tem sua história. Lado esquerdo os Moinhos abandonados, mas depois recuperados pelo nosso amigo Castro retornado da Venezuela, mas pouca história tem esse Moinho.

Do lado direito, muitas mós de Moinho pertencentes ao meu saudoso padrinho Sr. Felix, imigrante que foi no Brasil, trabalhados pela saudosa Tia Palmira e a filha Lucilia, aonde o Zé da Bina era o grande homem que carregava os sacos de farinha para a carroça. Caminho muito íngreme aonde toda a produção ia para a Vila, pois também lá tinha um depósito de farinha (Administrado esse depósito pelo amigo Castro antes de ir para a Venezuela).

Havia mais um Moinho chamado de Moinho de Fora, também trabalhado pelas mesmas pessoas ou seja Tia Palmira e Lucilia. Como essa gente trabalhava! Dia e noite, pois dormia no próprio Moinho para apanharem e ensacarem a farinha.

[Continua]

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